Quando a perda é ganho

A lei número um do capitalismo é “Tenha lucros”. O que motiva e fundamenta o princípio de uma sociedade competitiva é a ambição. Estou escolhendo este termo com muito cuidado porque quero diferenciá-lo de ganância, já que esta é fundamentalmente negativa. A ambição possui charme e poder de sedução, sendo um fator motivacional positivo ao levar pessoas a irem além dos seus limites, a desejarem qualificação, treinamento e aperfeiçoamento. A busca pela excelência está relacionada à ambição.

O que nem todos aprendem é que nem toda perda é perda real, e nem todo ganho de fato é ganho. Determinadas frustrações podem desencadear em nós reações muito positivas: Podem nos levar a reavaliar a vida e as motivações do nosso coração, podem nos ensinar humildade, refazer nossas prioridades e mostrar aquilo que é essencial a nossa vida. Muitas vezes perdas trazem ganhos profundos.

Imagine aquela pessoa com a qual você se enamorou perdidamente na sua juventude, mas cujo relacionamento não se concretizou. Isto foi uma grande perda para sua vida naquele momento especifico, mas certamente muitos hão de convir que tal perda tornou-se um enorme ganho. Pense na porta que lhe foi fechada para um determinado emprego, mas que se tornou algo extremamente positivo pelas novas oportunidades e desafios que você teve. “Portas que se fecham são iguais as que se abrem, se abertas ou fechadas por Deus”.

Aprendendo a perder – Aprender a perder é um grande desafio. Eclesiastes fala que “há tempo de ganhar e tempo de perder. Tempo de amar e tempo de separar, tempo de nascer e tempo de morrer”. Sempre é possível aprender a perder quando se tem um significado maior da existência. Quando não se percebe a vida como mero acaso. Tim Elliot, que foi assassinado por índios no Equador no seu trabalho missionário, escreveu poucos meses antes de sua morte: “Não é tolo aquele que dá o que não pode reter, para ganhar aquilo que não pode perder”. As coisas nem sempre são o que parecem ser, afinal, nem tudo que reluz é ouro.

A Bíblia relata um episódio da batalha entre o rei Amazias e os Edomitas. O rei estava com muito temor e resolve contratar cem mil homens por cem talentos de prata. Porém, um homem de Deus veio e disse ao rei para não se associar com aquele exército, porque Deus não se agradava da atitude daquele povo. O rei respondeu: “Que se fará, pois, dos cem talentos de prata que dei às tropas de Israel? E o homem de Deus lhe respondeu: muito mais do que isto pode dar-te o Senhor” (2 Cr 25.9).

Talvez você esteja hoje experimentando perdas, e isto esteja lhe tirando a paz, serenidade e alegria. Lembre-se, porém, que amanhã vai ser outro dia, e quando você olhar no retrovisor de sua vida, vai se impressionar com o fato de que esta perda foi superada por novas e ricas experiências em sua vida, e que você pode se tornar mais humano, ter as prioridades certas, rever conceitos e amadurecer. Afinal, nem todo ganho é ganho, e nem toda perda é perda…

Considere os ganhos indiretos na perda. O que você está perdendo é indispensável à sua vida? Que novas oportunidades de abrem para você diante desta perda? Muitos grandes negócios, novas amizades e oportunidades surgiram em épocas de grandes dificuldades e provações. Muitos conheceram Deus apenas em meio a grandes conflitos e dores. Jó, no final de sua experiência dolorida afirmou: “Eu te conheci só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem”. A experiência da perda abriu uma nova compreensão de Deus, afinal, “a dor é o megafone de Deus” (C.S. Lewis).

 

Pr. Sérgio Pereira – Pastor Setorial em Florianópolis (SC), Bacharel em Teologia, especializado em Bíblia, professor, conferencista e escritor.

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